domingo, 19 de janeiro de 2014

03 - ABELHAS

Mitos e verdades sobre este poderoso inseto

ANO 01 – ARTIGO 03 – NÚMERO SEQUENCIAL 003 – 19 DE JANEIRO DE 2014
*por Armindo Vieira do Nascimento Junior – Goiânia/GO

Artigo

 O que são abelhas?



            São seres que vivem coletivamente, harmoniosamente, em grandes sociedades, onde a ordem do dia é, sempre, a sobrevivência da própria espécie. Os indivíduos possuem interdependência uns dos outros. Para produzirem calor, juntam-se dentro da colméia em forma de bola e alimentam-se de pólen e mel. Dessa maneira, conseguem uma temperatura constante que é mantida entre 30 e 36 graus célsius, necessária para a eclosão dos ovos, desenvolvimento da prole e amadurecimento do mel recém armazenado. Quando a temperatura interna da colméia se eleva acima do normal, batem as asas para formar correntes de ar e, quando a entrada de néctar é escassa, chegam a carregar água para dentro da morada para ajudar a baixar a temperatura.

            Comunicam-se entre si através de duas danças distintas. Em círculo e a do requebrado, em forma de 8. Com as danças indicam às colegas de trabalho a distância e a direção da fonte de alimento encontrado. O número de danças na linha de centro, durante o espaço de 15 segundos, indica a distância. O ângulo da linha de dança entre o sol e a colméia indica a localização do alimento. Graças a essa comunicação as abelhas visitam a mesma flor, enquanto esta oferecer néctar em condições de atraí-las.

            Além das muitas habilidades, são portadoras de um aguçado sistema visual, um olfato surpreendentemente sensível e um complexo sensorial dos mais perfeitos. Sem considerar a valiosa participação direta nos interesses da humanidade, são dignas de admiração pelos exemplos de disciplina e cumprimento do dever que proporcionam a todos que conhecem sua organização e seu modo de viver.

 

Classificação Zoológica

 

            Na Biologia, as espécies animais e vegetais foram reunidas e organizadas segundo suas características mais aproximadas. Isto foi feito para facilitar o estudo dos mesmos. A essa sistemática foi dado o nome de “Taxionomia”. É uma seqüência em que os detalhes entre os seres se tornam mais evidentes fazendo com que pertençam a diferentes graus de identidade. São 7 categorias taxionômicas a saber: Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. O Homem por exemplo pertence ao Reino Animal, ao Filo dos Chordados, à Classe dos Mamíferos, à Ordem dos Carnívoros, à Família dos Símios, ao Gênero Homo e à Espécie Homo sapiens. O cachorro pertence ao Reino Animal, ao Filo dos Cordados, à Classe dos Mamíferos, à Ordem dos Carnívoros, à Família dos Canídeos, ao Gênero Canis e à Espécie Canis familiaris.

As abelhas pertencem ao Reino Animal, ao Filo dos Artrópodes, à Classe dos Insetos, à Ordem dos Himenópteros, à Família Apidae e ao Gênero Apis. As espécies e subespécies são variadas e veremos no próximo tópico.

 

Espécies e raças de Abelhas

 

Raça é um grupo de indivíduos pertencentes à uma mesma espécie, capazes de reproduzirem-se naturalmente, que transmitem aos seus descendentes as características nele reinantes. As abelhas, um dos seres mais antigos que habitam esse planeta, graças a sua organização, não se modificaram. A seleção natural faz com que raças se misturem, sumam e surjam outras, porém, as características essenciais deste ser não se alteram. No Brasil, a seleção natural fez com que algumas espécies de abelhas se extinguissem devido o avanço das abelhas africanas, que são mais resistentes e geneticamente predominantes. No mundo, as abelhas se dividem em três raças geográficas distintas:

 

Raças européias:                  Que englobam as seguintes espécies:

 

2.3.1.1- Apis mellifera ligustica L.

           

São as popularmente conhecidas abelhas Europa, que entre os caboclos são chamadas de “oropa”, ou, no sul do Brasil, como abelhas “Italianas”. É, sem dúvida, a raça mais conhecida e difundida do mundo. Sua origem é a Itália, como lembra o nome. São muito mansas, quietas nos favos e com pouca propensão à enxameação. Foram introduzidas no Brasil no ano de 1870 pelo imigrante Frederico Augusto Hanemann. São abelhas grandes, com abdômen fino e comprimento de língua entre 6,2 e 6,8 mm. Por serem muita quietas nos favos, a identificação da rainha é mais fácil. A introdução das abelhas africanas teve como consequências a miscigenação desta com as abelhas européias gerando uma raça específica classificada pela comunidade científica com Abelha européia africanizada ou simplesmente abelhas africanizadas brasileiras.

 

Apis mellifera mellifera L.

 

Conhecidas entre os apicultores do sul do Brasil como abelhas “do Reino” ou abelha “preta”. Tem a origem nos Alpes Europeus. Foi a primeira raça de abelha com ferrão a ser introduzida no Brasil no ano de 1839 pelo padre Antônio Carneiro que as instalou na região das missões no Rio Grande do Sul. São abelhas grandes com abdomen largo, carapaça de quitina escura e bastante peludas. Sua língua mede entre 5,7 e 6,4 mm de comprimento. Quando puras são mansas, ligeiramente nervosas e pouco enxameadeiras.

Quando cruzadas com abelhas italianas ou africanizadas geram descendentes com grande vigor, alta capacidade produtiva, porém defensivas e enxameadoras quando não controladas.

 

Apis mellifera carnica

 

            As abelhas cárnicas são originárias dos Alpes austríacos e de uma parte da Iugoslávia. São muito comuns nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde são muito desejadas pelos apicultores mais tradicionais. Sua introdução no Brasil ocorreu junto com as Apis mellifera mellifera.

As abelhas cárnicas são de grande porte, idênticas às mellifera mellifera, porém, na coloração, possuem anéis abdominais cinza-claros. Seus pelos são mais curtos e densos que nas raças italianas e do Reino. Seu comprimento de língua mede entre 6,2 e 6,8 mm. Nos cruzamentos com abelhas italianas produzem híbridos de alta produção e agressividade nos primeiros cruzamentos; são de boa produção, muito mansas e pouco enxameadoras. A rainha tem cor ligeiramente marrom, o que facilita sua localização entre as abelhas.

 

Apis mellifera caucasica

 

Tem sua origem nos altos vales do Cáucaso central da Rússia. Tem o mesmo tamanho da cárnica, são extremamente mansas. Não são boas produtoras de mel, mas cruzadas com abelhas africanizadas ou italianas tornam-se excelentes produtoras durante os primeiros cruzamentos. Entre as raças européias a abelha caucasiana é a mrelhor produtora de própolis naquele continente a saber própolis de Populus alamo (Europa) e Populus nigra (Ásia). Perde entretanto em produtividade de própolis para a abelha africanizada brasileira quando instalada no macro-clima da América do Sul principalmente nas regiões de altitude mais baixas e clima tropicais.

 

Raças africanas        Que englobam as seguintes raças:

 

Apis mellifera scutelatta

 

            Conhecida no Brasil como as temidas abelhas africanas, habitam ¾ do continente africano que vai do Sul do Deserto do Saara até ao norte do Deserto de Calahari. São altamente enxameadoras. Produzem 4 a 5 vezes mais mel que as italianas e são altamente propolizadoras. Começam a trabalhar cedo e param muito tarde para descansar. Possuiriam todas as características fenotípicas da abelha perfeita não fosse o fato de serem extremamente defensivas.

            Produzem células entre 4,6 e 4,9 mm, sendo a média mais comum 4,75 mm quando puras. O ciclo evolutivo da operária é de 19 a 20 dias, sendo que esta antecipação acontece devido à fatores climáticos podendo ser registrado, inclusive em outras raças. Sua vida de adulta é mais curta, variando ente 30 e 38 dias, mas seu equilíbrio populacional é compensado pela maior capacidade de postura da rainha. O comprimento da língua está entre 5,5 e 6,9 mm, com capacidade de carga de néctar de 40 mg em média. São propolizadoras e altamente pilhadoras em caso de falta de alimento. Começam a trabalhar bastante cedo, ainda com a aurora, e mesmo depois do entardecer é comum ver campeiras retornando à colméia.

 

A sociedade/colônia das abelhas

 

            A Biologia moderna caracteriza "sociedade" como um "grupamento de indivíduos da mesma espécie com plena capacidade de vida isolada, mas que preferem viver em coletividade. Os indivíduos possuem independência física uns dos outros e podem, ou não, apresentar diferenciação de formas de divisão de trabalho".  É o caso de um cardume de peixes, uma alcatéia de lobos, uma manada de búfalos, e, por que não dizer, a própria sociedade humana. A abelha é, segundo a biologia moderna, uma “sociedade”, e o faz corretamente, visto que, a constituição de sua vida está totalmente atrelada ao ser da outra espécie. No entanto, a abelha não é capaz de viver isoladamente, morrendo em poucas horas, quando afastada de sua família, característica essa das espécies compreendidas como "colônias".

"Colônia" caracteriza-se por "grupamentos de indivíduos da mesma espécie que revelam profundo grau de dependência e se mostram ligados uns aos outros, sendo-lhes impossível manter-se vivos quando isolados do grupo. São exemplos as cracas, os corais, as esponjas e as bactérias. As abelhas, no entanto, não são ligadas umas às outras, característica essa das espécies compreendidas como "sociedades".

Podemos, assim, definir que abelhas são grupamentos de indivíduos da mesma espécie, com independência física uns dos outros, sendo-lhes impossível, no entanto,  manterem-se vivos quando isolados do grupo. Observa-se diferenciação do trabalho entre seus indivíduos, bem como, das formas que se apresentam, constituindo castas distintas. Essa sociedade/colônia divide-se da seguinte maneira:

 

·         60.000 a 80.000 abelhas operárias

·         100 a 400 zangões

·         1 rainha, sempre ela e nunca a presença de duas.

 

As  três castas possuem características distintas entre si. Como ser pertencente a classe dos insetos, as castas nascem a partir de um ovo, passam por um estado larvário, por um estado de pupa, similar ao casulo da borboleta, onde sofrem metamorfose completa (insetos holometábolos) e nascem já insetos adultos, recebendo o nome pela biologia científica de imago, para desenvolver as atividades corriqueiras da colméia. Porém, todo esse ciclo evolutivo é distinto e diferente em cada casta. Confira:

 

 

Casta
ovo
larva
pupa
Total
Vida adulta
Nasce ovo fecund.
operária
3 dias
6 dias
12 dias
21 dias
38-42 dias
Sim
rainha
3 dias
5,5 dias
7,5 dias
16 dias
5 anos
Sim
zangão
3 dias
6,5 dias
14,5 dias
24 dias
80 dias
Não

           

É importante lembrar que os ovos só se desenvolvem a uma temperatura entre 30 a 36 graus célsius. Portanto, é necessário haver população proporcional à quantidade de ovos para haver essa temperatura constante e a conseqüente eclosão dos ovos.

 

A operária

 

            A operária é uma abelha que teve origem de um ovo feminino como o da rainha, mas com a diferença de que durante o seu estado larvário sua alimentação e berço foram diferentes da rainha. Seu desenvolvimento, ainda filhote, ocorre no alvéolo do favo, local muito apertado para seus órgão sexuais desenvolverem. Recebe geléia real no primeiro dia de vida no berço, e mel e pólen nos oito dias restantes. Depois de nascida, sentindo falta da rainha por muito tempo, realiza postura de ovos como a rainha, gerando, no entanto, ovos infecundos, nascendo deles apenas zangões.

            No primeiro dia, como todo ser vivo, nascem meio moles, com movimentos confusos de desconsertados. Em menos de 24 horas, estarão aptas a desenvolver as primeiras atividades na colméia. No 2o e 3o dias de vida as operárias se dedicam à limpeza dos favos e aquecimento dos ovos e larvas para eclosão dos mesmos.

            A partir do 4o ao 12o dia elas se dedicam ao preparo do alimento, alimentação das larvas, preparo da geléia real e criação de novas rainhas. Recebem o nome nesse período de abelhas operárias “nutrizes”. É um trabalho complicado o das nutrizes, pois devem engolir o mel retirado, principalmente dos favos não operculados, pólen e água, para que no seu estômago se faça a mistura necessária. Em seguida, regurgitam a mistura no alvéolo onde esteja uma larva para ser alimentada. Uma larva recebe, nos 9 dias em que permanece nesse estado, aproximadamente 12.000 refeições. Do 13o ao 18o dias, se dedicam à produção de cera, construção de favos e, se necessário, à puxada de realeiras (ovos de rainha). Recebem o nome nesta fase de abelhas “cerieiras” ou abelhas “construtoras”. A cera é produzida através de glândulas especiais, em número de oito, localizadas na parte inferior do abdômen. A matéria prima da cera é o próprio néctar das flores. No 19o e 20o dias fazem a defesa, guarda e vigia da colméia. São chamadas nesses 2 dias de abelhas “sentinela”. Permanecem na entrada do alvado da colméia. Do 21o ao 38o-42o dias, as operárias realizam o serviço de campo coletando água, néctar, própolis, pólen, realizando conseqüentemente a polinização e fecundação das flores. Recebem o nome, nesta fase de campeiras. Depois morrem, sempre fora da colméia, para evitar trabalho de remoção por parte das companheiras.

 

O zangão

 

           São os indivíduos machos da colméia, amantes da boa vida e grandes apreciadores dos favos de mel e nada fazem a não ser esperar pelo vôo nupcial de alguma rainha jovem (virgem). Não desenvolvem, no período larvário, órgãos para o trabalho, razão pelo qual ficam “a toa” na colméia.

            Possuem um super olfato que lhes permitem descobrir uma rainha virgem num raio de até 10 kms. Um vôo nupcial atrai uma nuvem aproximada de 4000 zangões, que numa disputa eliminatória, perdem sua vida no momento da copulação com a rainha, ao perderem o anel do abdômen que contém os órgão sexuais. Atinge sua maturidade sexual aos 14 dias de vida. Levam 24 dias para nascer e podem viver até 80 dias, se as operárias deixarem, o que depende das provisões de alimento e condições do tempo. São automaticamente eliminados após a florada e na entre safra.

Os zangões tem um avô, mas não tem pai, pois nascem de ovos não fecundados da rainha ou das operárias que  realizam postura na ausência da rainha. É um típico exemplo de partenogênese. Alguns tipos de insetos, em que os ovos não fecundados (aqueles em que o gameta masculino e o feminino não se encontram) entram em segmentação originando um novo indivíduo. A abelha rainha possui 32 cromossomos (2n), ou 16 pares de homólogos. Suas células sexuais sofrem meiose, onde ocorre a redução do número de cromossomos para 16 (n). Assim, todos os óvulos possuem 16 cromossomos, sendo, portanto, haplóides.  O não encontro do óvulo com o espermatozóide, faz com que o óvulo entre em segmentação originando um indivíduo, macho, haplóide, com 16 cromossomos. Desta maneira é fato determinar que todas as abelhas possuem 32 cromossomos ou são 2n, enquanto os zangões possuem 16 cromossomos ou são n.

Os zangões africanizados possuem um maior número de canais olfativos em relação aos zangões de sangue exclusivamente europeu, determinando uma maior sensibilidade em perceber a presença de rainhas virgens para serem fecundadas. Essa característica específica dos zangões africanizados é a causa da penetraçaõ e permanência das características fenotípicas das abelhas africanizadas no ambiente.

           

A rainha

 

            Também chamada de mestra é a única abelha feminina cujos órgãos são perfeitamente desenvolvidos. É, sem dúvida, o indivíduo mais importante, pois da sua produção de ovos, depende a força do enxame. No período da florada chega a botar 4000 ovos por dia.

            O que determina a formação de uma operária ou de uma rainha é o tipo de alimentação e berço ainda no estado larvário. A rainha nasce a partir de uma larva de operária que foi escolhida para se transformar em rainha. Seu alvéolo é alargado e se torna 5 vezes maior que o alvéolo comum. Assim, a larva tem espaço para crescer desenvolvendo todos os seus órgãos e espaço para receber alimentação com fartura à base unicamente de geléia real. A rainha leva 16 dias para nascer.

No nono dia de nascimento, realiza seu vôo nupcial. Ela sai em direção aos céus, emitindo um feromônio sexual que atrai 4000 zangões em média em um raio de 3 Kms. Com os zangões ao seu encalço, ela voa cada vez mais alto e mais rápido. Somente os zangões mais fortes e vigorosos (mais ou menos 10 zangões) conseguirão copular com a rainha. A rainha, já fecundada, retorna então á colméia, onde 2 a 4 dias depois, tempo necessário para o desenvolvimento do ovário, inicia a postura. A fecundação ocorre em uma altura que varia de 200 m a 1000 m de altura.

Vive até 5 anos, porém, no Brasil, sua capacidade de postura não passa de 2 anos, devido às intensas floradas e portanto, a necessidade constante de renovação da população da colméia através da postura. Neste caso, a própria colméia se encarrega de eliminar a rainha velha e produzir outra. Na apicutura comercial o apicultor realiza este trabalho, introduzindo uma rainha já fecundada eliminando a antiga de tempos em tempos.

 

 

ANEXO A ESTE ARTIGO FOTOS DE ABELHAS DO GÊNERO ÁPIS PARA SUA APRECIAÇÃO. A NATUREZA NOSSO AGRADECIMENTO, POIS TUDO O QUE TEMOS E O QUE SOMOS DEVEMOS A ELA QUE NOS DÁ GRACIOSAMENTE SEM COBRAR UM CENTAVO SEQUER.

 

*Armindo Vieira do Nascimento Junior, apicultor, apiterapeuta e acupunturista cria abelhas desde 1983. Já possuiu mais de 800 colméias de abelhas no entorno da capital mineira, Belo Horizonte com produção de mel e própolis verde tipo exportação. Atualmente reside em Goiânia, capital do estado de Goiás, onde possui 250 colméias de abelhas voltadas exclusivamente a produção do mel natural floral de abelhas. Fundou em 1988 a Cia da Abelha: www.ciadaabelha.com.br onde comercializa todos os produtos colhidos das abelhas e também materiais, equipamentos e insumos para pessoas que desejam também instalar apiários e para apicultores em todo o Brasil. Trabalha na capacitação de apicultores e profissionais da área alimentícia através de cursos diversos na área já tendo capacitado mais de 8000 profissionais da Cadeia do Agronegócio Apícola em quase 30 anos de atividade.

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